Comemoração Incomum, Mas Criativa"Desde os primórdios, o senso de humor esteve presente na música doHelloween, mesmo com a banda sendo um dos grandes nomes do Power Metal. Pois bem, parece que foi justamente este elemento que motivou o quinteto, hoje composto por Andi Deris (vocal), Michael Weikath (guitarra), Sascha Gerstner (guitarra), Markus Grosskopf (baixo) e Daniel Löble (bateria), a comemorar o 25º aniversário da banda (na verdade, a data marca 25 anos desde o primeiro lançamento, Walls Of Jericho, que saiu em 1985) com um álbum acústico/orquestrado, Unarmed - Best Of 25th Anniversary, dando para muitas das mais famosas músicas da banda versões completamente inusitadas. Obviamente, parte dos fãs desaprovou a ideia, enquanto outra parte gostou. Mas o ponto foi justamente oferecer algo diferente ao invés de uma simples coletânea ou um DVD, e é justamente este o ponto que Andi Deris deixa bem claro nesta entrevista. Esclarecedora, também, é a informação de que foi algo exclusivo para este material e que a banda volta em seu formato normal no próximo álbum – que já está sendo produzido e, segundo o vocalista, soa bem pesado. Com a simpatia usual, Andi conta tudo sobre Unarmed e oferece ao fã a perspectiva da banda, desmistificando muitas coisas sobre este disco."
- RC: Comecemos falando sobre o novo lançamento, Unarmed - Best Of 25th Anniversary. Primeiro, o básico: quando chego a hora de começar a pensar em como celebrar os 25 anos de Helloween, como surgiu a idéia para versões rearranjadas para as músicas?
- Andi Deris: Provavelmente por não gostarmos da idéia de colocar 12 ou 13 faixas já gravadas num álbum 'greatest hits' para comemorar nosso 25º aniversário. No nosso ponto de vista, seria algo que exploraria o fã, pois eles iriam comprar o álbum e, então, perceberiam que a maioria das músicas é igual ao que eles já tem. Achamos que seria algo estúpido e decidimos fazer algo bem diferente: ainda um álbum 'greatest hits', mas com as músicas em novos formatos... Você reconhece as suas melodias favoritas e tudo mais, mas num mundo completamente diferente. O Metal ficou de fora e deu lugar a algo artesanal, digamos, e trabalhamos em parceria com os melhores músicos que pudemos. Acho que é um presente mais valioso para um fã do que uma copilação estúpida de músicas já gravadas.
- RC: Você sabe bem como os fãs do Helloween ao redor do mundo são apaixonados pela banda, então creio que vocês esperaram, desde o início, uma repercussão dividida para o Unarmed - pessoas amando e pessoas odiando oque foi feito. Como você tem sentido a reação geral até o momento?
- Andi Deris: Honestamente, estou um tanto aliviado, pois quando decidimos fazer este álbum achamos que teriamos um nivel de aprovação perto dos 50%, metade amando e metade odiando. Agora a coisa parece estar mais proxima aos 70% e 30%! (risos) Acho que os seguidores da banda estão com a cabeça mais aberta e a maioria curtiu o álbum, entendeu a proposta dele. Acho que jogamos de forma bem aberta e honesta, pois logo no começo, antes de lançarmos Unarmed, dissemos a todos que seria um álbum acústico e com orquestra. Então, ninguem foi comprar o material despreparado. Se alguém, acidentalmente, comprou o álbum achando que seria Metal e depois percebeu que era acústico, peço desculpas! (risos) Mas fizemos tudo o que pudemos para deixar as pessoas cientes do que seria desde o começo; um álbum divertido de aniversário.
- RC: Antes de lançar o álbum, foi filmado e disponibilizado na internet o videoclipe para a música Dr. Stein, o que chocou muita gente - inclusive a mim! Mas acho que no final das contas a versão soa bacana, com os metais funcionando bastante na atmosfera da composição. Por que vocês escolheram a Dr. Stein como primeira representante do álbum?
- Andi Deris: Não sei bem, pareceu ser a escolha certa. Poderia ser Eagle Fly Free ou Future World, mas Dr. Stein pareceu ser a certa... Algo para dizer às pessoas: 'Ei, tome cuidado, é diferente' (risos)
- RC: E o video em si ficou legal, seguindo bem o sendo de humor presente na letra da Dr. Stein e casando com a "nova cara" dela. Vocês ficaram satisfeitos com ele?
- Andi Deris: Sim, com certeza, ele é axatamente o que estamos promovendo. Mostra para a pessoa que não se trata de um álbum de Metal. Acho que todos que assistem ao video conseguem captar a idéia do álbum e decidem comprar se estão preparados para algo do gênero. É facil entender o que fizemos através do video de Dr. Stein: esse álbum deve ser encarado com cuidado! (risos)
- RC: Imagino que tenha sido divertido filma-lo, não?
- Andi Deris: Foi sim, mas por outro lado ele foi filmado em Berlim e a temperatura estava entre 0 ºC e -1 ºC. Todos estavam congelando! (risos) Era uma ida e vinda constante de um quarto aquecido para o set, pois lá estava congelando e só tinha um lugar com aquecimento. Então, você pode imaginar o quanto aquele pequeno quarto era disputado!
- RC: Também imagino o quanto aquelas garotas sofreram nas filmagens!
- Andi Deris: Sofreram muito, poís as roupas que usaram eram muito curtas! (risos) Mas sabe qual é a coisa boa disso? Quando está frio você vê os mamilos enrijecidos das garotas e eu amo isso... As pequenas antenas! (risos)
- RC: Foram muitos os convidados especiais para Unarmed, inclusive 70 músicos da Orquestra Sinfônica de Praga. Como foi para o Helloween essa experiência em trabalhar com uma orquestra?
- Andi Deris: No ínicio, achei que seria um tanto desastroso, mas não foi! Aquelas pessoas foram tão profissionais... Viram, pela primeira vez, as partituas e já saíram tocando. Liam as notas diretamente da partitura sem sequer terem passado as músicas uma vez sequer! Foi fantástico e me fez perceber o quanto eu sou ruim como musicista! (risos) Em comparação àquilo, somos todos músicos muito pobres! (risos) Aquelas pessoas fizeram um trabalho e tanto, fantástico!
- RC: Quem foi o responsável pelo novos arranjos das músicas para orquestra?
- Andi Deris: Foi um cara chamado Matthias Ulmer, que vive em Hamburgo (ALE). Ele fez muitos preparativos e partituras, arranjando tudo para a orquestra. Imagine, se fizéssemos isso teríamos que trabalhar através de um programa como Logic ou Cubase. Mas se você simplesmente imprimir as partituras atravéis de um desses programas, a orquestra o matará, poís não é exatamente o que eles querem ver... Tem alguma coisa que não é igual a uma partitura normal, mas honestamente não faço idéia do que seja! (risos)
- RC: Algo interessante que notei no arranjos para orquestra é que eles são diferentes do que comumente vemos quando uma banda decide fazer um álbum nesse formato. Geralmente, os arranjos vão na linha da Música Clássica, enquanto que no caso do Helloween tendem muitas vezes para o oposto, seguindo a veia de trilhas sonoras de filmes ou até mesmo o Pop, soando mais "moderno". Foi esta a intenção?
- Andi Deris: Sim, tinhamos que fazer isso. Caso contrário, iriamos longe demais, pois se você adaptar completamente as linhas de baixo e guitarra para orquestra vai ficar muito encrencdo, pois ao invés de um violino teria que usar um violoncelo. É mais profundo. Essa idéia não soou bem, pois eu queria que as músicas mantivessem a atmosfera das originais, mas com instrumentos diferentes. Só que com uma orquestra tocando exatamente as linhas de guitarra, por exemplo, a atmosfera muda completamente. Não foi tão fácil criar os arranjos para o álbum, me lembro do Matthias quebrando a cabeça para fazer com que todos os instrumentos da orquestra soassem bem com a banda. Algumas vezes, chegamos a escrever novas melodias. Deu trabalho, mas o resultado ficou legal, pois é algo novo em termos de arranjos para orquestra... Não apenas transferirmos as lingas para a orquestra, rearranjamos tudo.
- RC: Creio que produzir este álbum tenha sido um grande desafio, tanto paa a banda - mesmo tocando as próprias músicas - quanto para o produtor Charlie Bauerfeind, que trabalha com vocês há tanto tempo. Como funcionou a produção de Unarmed?
- Andi Deris: Foi o Charlie que teve a maior parte do trabalho, pois foram muitas as decisões tomadas por ele. A banda, devo confessar, foi mais secundária nesse caso. Ouviamos as idéias e tudo o que tinhamos que fazer era dizer se tinhamos gostado ou não. No fim das contas, os arranjos foram do Matthias e dop Charlie. O guitarrista Andreas Becker também ajudou muito, pois sempre que ficávamos inseguros sobre para onde seguir ele trazia o violão e tocava os estilos diferentes. Numa música ele fazia uns quatro estilos diferentes: Blues, Rock 'n' Roll, Ska e até mesmo Jazz! Era tão facil ouvir e decidir. Na maior parte das vezes, a banda optava por uma versão, acho que apenas em Eagle Fly Free tivemos uma dificuldade maior. Mas no geral era só ouvir o andreas tocando, dedidir e depois gravar.
- RC: Vocês tentaram rearranjar alguma música que acabou não ficando legal o suficiente para integrar o álbum?
- Andi Deris: Sim, e o maior exemplo é Heavy Metal Is The Law. Mas, veja, uma música com a letra baseada no título "Heavy Metal Is The Law" não é fácil de ser colocada em uma versão Jazz ou Ska! (risos) Tentamos, mas nunca dava certo e então desistimos.
- RC: Acho que existem música em Pink Bubbles Go Ape e em Chamaleon que poderiam soar legais no formato Unarmed. Por que ambos o álbuns ficaram fora da coletânea?
- Andi Deris: Em Pink Bubbles Go Ape simplesmente por não acharmos que tenha músicas fortes o suficiente para isso. Buscávamos por temas que tiveram algum impacto e estiveram nas paradas de algum lugar do mundo. "Top 10" ou "Top 20". Pink Bubbles Go Ape não entrou nos charts, mas ou menos o mesmo que aconteceu com Chamaleon.
- RC: Não sei o quanto próximos vocês ainda sãop dos ex-integrantes do Helloween, exceto pelo Kai Hansen, que está em constante contato com a banda. Você sabe como os antigos membros do Helloween, ou pelo menos o Kai, reagiram aos rearranjos?
- Andi Deris: Kai ficou meio dividido. Por exemplo, ele não gostou muito da idéia do coral de crianças em I Want Out. Também ficou meio confuso com a versão de Eagle Fly Free... Mas ele ouviu apenas as demos iniciais, e honestamente você não gostaria de ouvir a primera demo de Eagle Fly Free, é horrivel! (risos) Acho que ela foi a maior mudança no álbum, até mesmo no resultado final, pois é um clássico do Speed/Power Metal que se tornou uma balada! Esta é a maior mudança que pode ser feita numa música e achei o resultado final muito interessante. Inesperado. Sabe, gosto desse álbum, pois foi a primeira vez que mihna mãe ouviu um trabalho meu e entendeu as melodias! (risos) No Heavy Metal ela fica meio perdida nas melodias, pois é muito barulho para os ouvidos dela... Isso pode ser um bom sinal, ou talvez ruim, pois nunca tive a intenção de fazer álbuns para minha mãe! (risos)
- RC: Unarmed foi lançado pela Sony Music. Esta é a nova gravadora da banda ou ainda existe alguma conexão com a SPV Records?
- Andi Deris: Não existe mais qualquer relação com a SPV, agora somos contratados da Sony. Claro que manteremos a amizade com pessoas que sempre fizeram um grande trabalho para a banda na SPV, mas no lado dos negócios acabou.
- RC: Unarmed será lançado nos EUA em abril. Qual é a atual relação entre o Helloween e o mercado norte-americano?
- Andi Deris: Sempre foi uma relação muito dura, pois nos EUA há muitas bandas locais, que obviamente, sempre têm a prioridade na promoção. O trabalho por lá sempre foi duro, não apenas para nós, mas até mesmo para bandas como Scorpions e Rammstein, que levaram mais de 15 anos para conseguir sucesso nos EUA, mesmo quando já eram número 1 no restante do mundo. Mas digo que é um ótimo lugar para excursionar. A nossa mais recente turnê por lá foi muito legal, muito bem sucedida. Pela primeira vez posso dizer que amei excursionar pelos EUA, e isso talvez ocorra por eu ter percebido que as pessoas de lá mudaram, agora parecem tão legais... Honestamente, acho que o país inteiro mudou! Pessoas legais, conversas interessantes e até mesmo boas discussões sobre política. Agora, parecem estar mais interessados com o que acontece no mundo, e não apenas com eles mesmo. Provavelmente eu tenha o meu ponto de vista a respeito do país.
- RC: Recentemente vocês fizeram alguns shows acústicos na Alemanha para promover o álbum. Estão marcadas novas apresentações nesse formato?
- Andi Deris: Não, não e não - eca! (risos) Tocamos seis músicas em sessões de autografos nas grandes lojas da Alemanha. A idéia nunca foi que se tornassem shows acústicos. É legal fazer isso por cinco ou seis shows, mas não gosto!
- RC: Agora uma pergunta imagino ter surgido na cabeça dos fãs quando ouviram no Unarmed pela primeira vez: quais versões das músicas serão tocadas na próxima turnê, as normais ou acústicas?
- Andi Deris: As normas, sem dúvida! (risos) Eu não comprei uma guitarra há décadas para hoje sentar e fazer um show acústico... Eu amo a guitarra e quero ouvi-la bem alto! (risos)
- RC: Creio que Unarmed seja apenas o ínicio para esta celebração de 25 anos do Helloween. O que mais vocês planejam fazer nos próximos meses?
- Andi Deris: Estamos compondo um novo álbum neste momento, e metade dele já foi feita, inclusive as minhas composições. Precisamos de mais umas seis ou sete músicas, dependendo dea ultima que estou fazendo, que tem uns nove minutos de duração. Se esta rolar, provavelmente precisaremos de mais umas cínco, caso contrário ela vai para o outro álbum e ainda ficaram faltando umas sete para finalizar este. Mas a metade que já foi feita, posso adiantar, é bem pesada e positiva. Acho que todos se trancaram no seus estúdios e queriam ouvir Metal novamente, pois o resultado está ficando bem pesado.
- RC: E quando será o lançamento?
- Andi Deris: No Halloween, em outubro (N.R dia 31).
- RC: Quais são os planos para shows em 2010?
- Andi Deris: Começaremos pela Europa em meados de novembro e, logo depois da pausa para o Natal e Ano Novo, acho que retornaremos para a América do Sul. Creio que os shows no Brasil aconteçam por volta de Janeiro ou início de Fevereiro de 2011.
- RC: Boa época pois poderão aproveitar o verão por aqui!
- Andi Deris: Perfeito! Eu definitivamente não gosto do inverno europeu de Janeiro e Fevereiro. Esse ano, inclusive, estão acontecendo muitas catástrofes por aqui por aqui devido a isso. Na Alemanha são dois meses seguidos de neve, tempestades, frio... Horrivel!
- RC: Mas a coisa por aqui também não anda boa, pois estamos tendo muitos problemas com chuvas e enchentes em vários Estados.
- Andi Deris: Eu vi as notícias a respeito. Aqui onde eu moro, nas Ilhas Canárias, também estamos tendo alguns problemas com chuvas. Não estou tão longe de vocês, apenas um oceano de distância! (risos) O caos anda solto por aqui. Algo coisa esta acontecendo com a Terra!
- RC: O Hellowween comemora os 25 anos e você já é o vocalista há 17. Quando você entrou, teve a dificil missão de substituir ninguém menos que Michael Kiske, mas conseguiu ganhar o respeito e a admiração dos fãs. Como você se sente depois de tanto tempo com a banda e com tudo o que conquistou com ela?
- Andi Deris: Essa é uma pergunta difícil. O legado que tive que continuar há 17 anos não foi nada fácil, pos substituí um dos melhores cantores do estilo, Michael Kiske. Mas nunca perguntei a mim mesmo se o que estava fazendo era certo ou errado, apenas cantei no meu estilo e me diverti. Escrevi as músicas que eu gostaria de ouvir no Helloween, sem olhar para o passado. Sinceramente, ninguem canta melhor que Michael Kiske nesse estilo, então nunca tentei substituí-lo, quis ser apenas eu mesmo - mas com todo o respeit. Foi uma tarefa dura. No álbum Master Of The Rings, o meu primeiro, senti um alivio geral dos fãs pelo Helloween ter voltado a fazer música pesada... Todos deram graças por não terem que ouvir um outro Chamaleon. Isso tornou as coisas mais fáceis, pois sentimos que haviamos feito a coisa certa. Aquele ábum foi uma mistura legal entre Hard Rock e Metal, e as pessoas gostaram muito dele. Para mim foi um alívio, pois aquilo é o que sei fazer e amor... Amo o Metal, mas de vez em quando também amo o Hard Rock. E se me permitem combinar ambos, não posso ficar mais feliz.
- RC: Acho legal que desde o seu início na banda foi permitido a você colocar sua própria personalidade, tanto no jeito de cantar quando de compor.
- Andi Deris: E me sinto feliz por isso, pois é a única coisa que sei fazer! (risos) Era a única forma que poderia funcionar, e funcionou. Fico muito feliz com isso, pois não copiamos o passado. Adicionamos algo novo que remetia ao passado, havia uma conexão, mas inovamos.
Entrevista feita por Ricardo Campos - Roadie Crew *Edição 134 Março 2010
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